segunda-feira, 22 de junho de 2020

Educação e Interpretação Ambiental



A interpretação ambiental diz respeito a um conjunto de princípios e técnicas que tem como objetivo estimular o entendimento das pessoas em relação ao ambiente, incentivando a curiosidade, o conhecimento, a reflexão por meio de estímulos e interações práticas com a natureza e prioriza a conservação de recursos naturais.

Além disso, a interpretação ambiental está diretamente relacionada com a experiência do visitante. Por meio de seus sentidos, ele conecta-se com o ambiente e vivencia novas experiências.

Deste modo, sua principal finalidade é provocar o visitante, mas de forma amena. Para ser efetiva, ela deve ter um significado para a pessoa, deve incentivar a participação do indivíduo, provocar o questionamento e, principalmente, ser prazerosa.

Por conta disso, a interpretação ambiental é importante para a educação ambiental, pois ela está diretamente ligada a mudanças de atitudes e de valores.

De acordo com a Declaração de Tbilisi, determinada na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, realizada pela UNESCO em parceria com o PNUMA na cidade de Tbilisi, Geórgia, a educação ambiental deve ser voltada à comunidade para despertar nela o interesse de participar ativamente da busca por solucionar questões dentro de um contexto de realidades específicas, estimulando o senso de responsabilidade e o esforço para construir um futuro melhor.

Sendo assim a educação ambiental é um processo constante, em que a pessoa adquire consciência do meio ambiente ao seu redor e torna-se capaz de agir sozinha ou coletivamente na procura por soluções que resolvam questões ambientais urgentes e melhoria para as gerações futuras.



Interpretação: É uma atividade educativa, cujo propósito é dar a conhecer o significado dos recursos através de aspectos originais, por experiência direta ou por meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar de sua significância ou importância. As técnicas de interpretação em áreas silvestres objetivam confundir as atividades de recreação e educação, imperceptivelmente, de maneira que o visitante desenvolva sua educação ambiental sem se aperceber disso.

Assim, devem ser conceituados os seguintes objetivos inerentes ao processo de comunicação através da interpretação:

a) Aumentar a satisfação e aproveitamento dos visitantes, considerando que a maioria tem o desejo de ver e aprender coisas novas;
b) Dispersar os visitantes, pela utilização de certos mecanismos interpretativos, manipulando o impacto sobre sítios específicos, e também moldar as atitudes e características de conduta dos mesmos, para melhor apreciação do ambiente;
c) Induzir os visitantes à aplicação de soluções ecológicas aos ambientes nos quais têm influência;
d) Fazer compreensível o papel da instituição que desempenha jurisdição sobre a unidade;
e) Induzir a sociedade (visitante) a uma melhor compreensão da natureza, pelo relato da história e inter-relacionamento das diversas comunidades animais e vegetais, e a maior proteção dos recursos naturais através da compreensão de seu valor.

As técnicas de interpretação da natureza, como metodologia didática, são baseadas nos seguintes princípios básicos:
a) O fenômeno interpretativo deve ser relacionado com algo comum à experiência do visitante;
b) A interpretação deve ser algo mais que a simples informação – deve tornar o conhecimento acessível ao visitante;
c) A interpretação deve ser considerada como arte de comunicação e usar, para tal, todos os sentidos humanos de assimilação;
d) A interpretação, não sendo ensino, mas a provocação, deve motivar o visitante à participação;
e) A informação apresentada deve reportar-se ao global, onde as características devem estar inter-relacionadas;
f) A interpretação deve ser dirigida a grupos distintos, quer etária ou culturalmente.

Assim, a interpretação da natureza como um instrumento para recreação educativa apresenta, entre outros, os seguintes aspectos:

a) Aumenta o desfrute e a satisfação do homem no ambiente natural;
b) Desenvolve a compreensão do uso e do abuso dos recursos naturais pelo homem;
c) Auxilia o homem na compreensão do ambiente natural e sua relação com ele;
d) Permite distribuir os visitantes, evitando concentrações em áreas frágeis;
e) Permite a formação de uma consciência pública responsável pelo mundo que o homem molda e pelo qual é moldado;
f) Protege os recursos naturais através da apreciação e compreensão de seu valor ecológico e ambiental, reduzindo, dessa forma, o vandalismo;
g) Permite a educação do visitante para resolver problemas ambientais nas quais tem influência;
h) Torna compreensível ao visitante o papel desempenhado pela instituição responsável pela conservação dos recursos.

Os meios a serem usados na interpretação devem estar baseados nas características da área, obtidas pelas informações básicas e inventário, e nos objetivos de manejo. Devem também considerar as características dos visitantes, tais como número e tipo de visita, classe etária e condição natural. Além desses aspectos, para seleção dos meios interpretativos, devem ser observadas:

a) A orientação do visitante na área, indicando-lhes as oportunidades oferecidas e usando de estratégias adequadas para despertar sua curiosidade e levá-lo a procurar os lugares de maior interesse da unidade;
b) A interpretação de um fenômeno completo, incluindo aspectos naturais correlatos ao interesse principal, sendo importante situar o homem e sua influência no ambiente e levar o visitante a tomar consciência de sua responsabilidade para com o meio ambiente;
c) A exposição de objetos raros e/ou frágeis que, por serem muito valiosos, não devem ser deixados em lugar descoberto ou lugares de difícil acesso, tornando-se recursos especiais para interpretação.

Exige ainda a disponibilidade de meios adequados, tais como:

1 Centro de Visitantes – pequenos edifícios onde se recepciona e conduz o visitante à interpretação, por meios e equipamentos que vão desde simples painéis a apresentações audiovisuais contínuas;

Cada Centro de Visitantes é singular, ao contrário dos museus tradicionais, os centros de interpretação, geralmente, não visam coletar, conservar e objetos de estudo; são instituições especializadas na comunicação da importância e do significado do patrimônio. Trabalham para educar e consciencializar.

2 Quiosques de informações – pequenos abrigos de onde podem sair guias interpretativos para acompanhar os grupos, respondendo às perguntas formuladas pelos visitantes e despertando-lhes o interesse pela natureza;

Interpretação pessoal: neste caso, a interpretação é orientada por um guia treinado, capaz de provocar, perceber e otimizar as intenções do visitante com o ambiente, tratando-se de uma das formas mais eficientes de interpretação. Há ainda a representação teatral, onde são exibidos períodos históricos ou outros fenômenos com a participação de atores, podendo haver a inserção ativa do próprio visitante ou a exibição de trabalhos artesanais em locais estrategicamente escolhidos para acesso do visitante.

3 Pequenos museus e mostruários – situados em locais regionais estratégicos, que permitam apresentar ao público aqueles objetos de difícil observação no campo, podendo estar anexados ao Centro de Visitantes e devendo possuir pequenos laboratórios com peças de história natural;
Também poder ser um centro de interpretação ou centro interpretativo é uma instituição focada na disseminação do conhecimento do patrimônio cultural ou natural. Os centros de interpretação sugiram como um novo tipo de museu, muitas vezes associados a centros de acolhimento de visitantes ou a ecomuseus, localizado em conexão a sítios de âmbito cultural, histórico ou natural.

4 Exposições marginais – apresentando pequenos mostruários à beira dos caminhos (trilhas), com peças autênticas, protegidas contra vandalismo e intempéries;

5 Trilhas interpretativas – são trilhas ou caminhos especialmente construídos, onde em locais determinados, estabelecem-se postos numerados, com a descrição dos fenômenos locais de destaque (pode-se usar postos numerados sincronizados, com folhetos explicativos ou placas/painéis em cada posto);

Trilhas ou roteiros interpretativos: uma trilha ou roteiro interpretativo é simplesmente um caminho planejado para fins de interpretação, podendo fazer uso dos diversos meios anteriores. É geralmente tratado como trilha quando se refere a caminhos já demarcados e roteiro quando não, podendo ambos ser planejados tanto para o meio natural como urbano. Não se limitam a caminhadas, podendo ser planejadas para atender também a bicicletas, cavalos ou veículos motorizados. Aqui os dois tipos serão chamados apenas de trilha.

6 Painéis descritivos – são painéis com letreiros protegidos que servem para mensagens curtas sobre fenômenos em observação, devendo possuir letreiros que chamem a atenção sem romper a harmonia da paisagem natural (o painel não pode atrair mais que a paisagem nem ser “extravagante”; a terminologia utilizada deve considerar as características do visitante e as dimensões das letras devem estar de acordo com a posição do observador;

7 Letreiros ou Legendas – são pequenos painéis não protegidos ou placas que destacam detalhes importantes sobre os temas abordados.

Placas e painéis interpretativos: são objetos que, sob os princípios da interpretação, auxiliam o processo de interpretação do visitante com o ambiente. As placas trazem desde uma simples sinalização de orientação para o transeunte até textos, figuras, mapas, fotografias e documentos. Devem ser atraentes, simples, geralmente com menos de cem palavras, de fácil entendimento e acessíveis às crianças e deficientes físicos. Além disso, devem ser resistentes às intempéries e ao vandalismo e não podem contribuir para a poluição visual do local ou para a obstrução visual da paisagem. Algumas vezes os sinais podem ser destacados no chão do próprio caminho, com pintura por exemplo. Os painéis podem ainda exibir imagens ou mapas em baixo relevo, miniaturas e maquetes compondo, por exemplo, cenas de épocas passadas ou diferentes ecossistemas.

Outras considerações sobre as técnicas de interpretação que podem ser executadas em qualquer tipo de trabalho, são (segundo silva, 1996):
- A conversa deve ser orientada a não fugir do tema;
- A atmosfera das apresentações deve ter um tom pessoal do guia;

O guia deve aproveitar bem o tempo disponível sem esquecer- se que o visitante merece um tempo a sós com a natureza para poder apreciá-la como bem quiser (tomar sol, beber água de minas, tomar banho de cachoeira, fotografar, relaxar etc.). Posicionar-se de forma que o máximo de visitantes possam vê-lo;

Conceitos em Interpretação Ambiental
Seu objetivo básico é revelar os significados, relações ou fenômenos naturais por intermédio de experiências práticas e meios interpretativos, ao invés da simples comunicação de dados e fatos (TILDEN, 1957).

A interpretação ambiental inclui a tradução da linguagem técnica de uma ciência natural em idéias que as pessoas em geral, que não são técnicas, possam facilmente entender. Isto implica em fazê-la de forma que possa ser entendida e interesse aos ouvintes (HAM, 1992).


O ICMBio lançou a publicação Interpretação Ambiental nas Unidades de Conservação Federais, que oferece uma compilação dos principais conceitos teóricos relacionados à interpretação ambiental.

Na publicação, o leitor encontrará a definição do conceito de interpretação ambiental. ( LINK do Livro ) A interpretação ambiental é uma das ferramentas elencadas no documento “Diretrizes para visitação em unidades de conservação”, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente em 2006, mas ainda permanece pouco conhecida e utilizada no Brasil.

Objetivos da Interpretação Ambiental
- Facilita o conhecimento e a apreciação da natureza; 
- Objetivando conservar seus recursos naturais, históricos e culturais; 
- Visa aumentar a satisfação dos visitantes; 
- Servir de ferramenta para o manejo dos visitantes; 
- Estimular a participação do visitante nas questões político- ambientais. 
- Acrescentar valor à experiência do visitante, elevando o seu nível de satisfação; 
- Realçar a necessidade da conservação do patrimônio visitado.

Princípios da Intepretação Ambiental
Os principais Princípios da Interpretação da Natureza, estabelecidos por Tilden em 1967, permanecem válidos até hoje:

A interpretação deve se relacionar com algo da experiência do visitante: perceber e conectar a personalidade do visitante é muito importante, lembrando que a interpretação liga o visitante ao ambiente através de seus sentidos e quanto maior o número deles em uso mais eficiente a atividade; não são abordados objetos virtuais, mas sim aqueles que possam presenciar, experienciar, sentir, tocar, etc. 

A interpretação não é informação e sim uma revelação baseada na informação: na interpretação o objeto de interesse se revela em sua forma real pela experiência e não por adjetivos e valores afirmados por terceiros. 

A interpretação é fundamentalmente uma arte de comunicação: isso significa que, embora existam pessoas com maiores ou menores facilidades para tal, ela pode ser aprendida em algum grau; ademais, significa que diferentes formas de comunicação e diferentes profissionais podem ser utilizados, com o uso, por exemplo, da arte visual. 

O objetivo fundamental da interpretação não é a instrução, mas sim a provocação, avivando a curiosidade e o interesse: espera-se que o visitante aprofunde por si mesmo a interpretação do objeto em foco, que ele questione e se sinta o conquistador de seus novos conhecimentos. 

A interpretação deve ser dirigida a audiências específicas: embora nem sempre seja possível, a interpretação mostra-se mais eficiente quando o público-alvo não se apresenta muito diverso em seus interesses e objetivos, como acontece quando a atividade se dirige a um público infantil de mesma faixa etária, por exemplo; ao mesmo tempo deve estar preparada para atender amplamente a todo público. 

A interpretação deve apresentar os fenômenos na sua totalidade: isso significa o compromisso da interpretação com a realidade, que não é fragmentada ou divisível a não ser em nossas mentes; significa assim uma abordagem holística, exbindo as relações existentes entre os diversos fenômenos naturais, históricos e culturais.

Mais recentemente, à medida que vai se desenvolvendo, a interpretação incorpora novos princípios, como:

A interpretação deve ser realizada em parceria com a comunidade local: isso revela a necessidade de respeito àqueles que grande parte das vezes mais dominam o patrimônio abordado e até mesmo se constituem em seus verdadeiros senhores. 

A interpretação não afirma verdades universais: destacando a necessidade da atividade incentivar a tolerância às diferentes formas de expressão cultural. 

Metodologia para o planejamento da Interpretação
As etapas do desenvolvimento de um plano de interpretação em Unidades de Conservação são (SHARP, 1982 e SILVA, 1996):

- Determinação de objetivos; 
- Promover um inventário interpretativo; 
- Selecionar e desenvolver os temas a serem interpretados; 
- Identificar e desenvolver as facilidades e os serviços disponíveis para se promover a interpretação; 
- Identificar a demanda; 
- Analisar as alternativas de u so da área; 
- Desenvolver o plano e implementá-lo de forma gradual, seqüencial e contínua;
- Revisar e monitorar freqüentemente.

Métodos de Interpretação Ambiental
Segundo (HAM, 1992 e SCHIAVETTI, 1999) qualquer abordagem interpretativa que objetive parecer menos técnica e diferenciada de uma simples transferência de informações deve conter as seguintes qualidades:

- A interpretação deve ser amena e promover o entretenimento; 
- A interpretação deve ser pertinente, ou seja, deve ter significado e ser pessoal ; 
- A interpretação deve ser organizada; 
- A interpretação deve ter um tema central ou um objetivo a ser alcançado; 
- Incentivar a participação; 
- Provocar e questionar o visitante; 
- Uso do humor.

Interpretação da Natureza em Unidades de Conservação
A administração dos recursos de uma unidade de conservação exige ainda a disponibilidade de meios adequados, tais como:

a) Centro de visitantes – pequenos edifícios onde se recepciona e conduz o visitante à interpretação, por meios e equipamentos que vão desde simples painéis a apresentações audiovisuais contínuas;

b) Quiosques de informações – pequenos abrigos de onde sairão os guias interpretativos para acompanhar os grupos, respondendo às perguntas formuladas pelos visitantes e despertando-lhes o interesse pela natureza;

c) Museus pequenos ou mostruários – situados em locais regionais estratégicos, que permitam apresentar ao público aqueles objetos de difícil observação no campo, podendo estar anexados ao centro de visitantes e devendo possuir pequenos laboratórios com peças de história natural;

d) Exposições marginais – apresentando pequenos mostruários à beira dos caminhos, com peças autênticas, protegidas contra vandalismo e intempéries;

e) Trilhas interpretativas – são trilhas ou caminhos especialmente construídos, onde, em locais determinados, estabelecem-se postos numerados, com a descrição dos fenômenos locais de destaque (pode-se usar postos numerados sincronizados, com folhetos explicativos ou placas/painéis em cada posto);

f) Painéis descritivos – são painéis com letreiros protegidos que servem para mensagens curtas sobre fenômenos em observação, devendo possuir letreiros que chamem a atenção sem romper a harmonia da paisagem natural; a terminologia utilizada deve considerar as características do visitante e as dimensões das letras devem estar de acordo com a posição do observador;

g) Letreiros ou legendas – são pequenos painéis não protegidos ou placas que destacam detalhes importantes sobre os temas abordados.

Recursos Interpretativos
Os recursos necessários para um trabalho de interpretação dependem de cada caso em particular, sendo necessário um aprofundado e contínuo inventário da situação.

Os recursos existentes merecedores de interpretação são levantados e avalizados, digam respeito aos recursos naturais (fauna, flora, relevo, solos, hidrografia, clima, ecossistemas, fenômenos ecológicos, etc.) ou culturais (história, arqueologia, economia, arquitetura, artesanato, tradições, linguagem, etc.). Igualmente importante é avaliar os recursos técnicos e financeiros disponíveis para um programa de atividades interpretativas (profissionais disponíveis, orçamento governamental, patrocinadores, etc.). Também são levantados e avaliados os visitantes atuais e potenciais, definindo-se o público-alvo (escolaridade, idade, procedência, motivações, tempo disponível, etc.). A partir daí são eleitos os temas mais relevantes a serem interpretados nos diversos locais e escolhidos os diversos meios interpretativos a serem explorados.

Qualidades do Intérprete
Além das características técnicas e profissionais que se exige do guia / condutor de ecoturismo, para o melhor desenvolvimento da interpretação o intérprete deve:

- Conhecer a área e seu entorno; 
- Conhecer o visitante e adaptar-se ao seu perfil; 
- Sabe terminar uma conversa ou palestra de maneira educada; 
- Ser animado, criativo e gentil; 
- Conhecer e ser seguro de si mesmo; 
- Tratar todos com igualdade; 
- Manter boas relações.

Avaliação da Afetividade da Interpretação
A avaliação dos resultados atingidos pela interpretação deve se dar como um processo contínuo e são diversas as formas possíveis e muitas vezes complementares. Busca-se basicamente avaliar o quanto as atividades estão contribuindo para a conservação do patrimônio socioambiental, atuando nas mudanças de comportamento dos visitantes, e qual o nível de satisfação destes com a atividade. Para isso podem ser utilizados questionários abertos ou fechados, pré e pós testes, entrevistas, depoimentos, diagnósticos participativos e análise de impactos ambientais.





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