As atuais conjunturas relativas ao modo de vida em grandes cidades constituem-se em importantes fatores na motivação à prática das viagens. Alguns estudiosos consideram tais aspectos (ameaça constante de violência, tensão no trânsito, estresses urbanos); como determinantes e justificadores à prática do turismo. “Emerge a indústria do lazer e do turismo, que erige a viagem como única forma de livrar-se das neuroses urbanas, do cotidiano constrangedor das cidades” (RODRIGUES,1977:127).
Também a globalização, no sentido de proporcionar mais facilidades aos sistemas de comunicação e informações, atua tanto como indutora quanto facilitadora à fuga das “neuroses urbanas”.
Há aqueles que afirmam ser essas necessidades, de viajar e fazer turismo, criadas pelo sistema social e econômico onde as imagens (fotografias publicitárias, por exemplo), emolduradas por uma ideologia acabam por criar expectativas, estimulando a “massa que sofre das neuroses urbanas” a distanciar de seu cotidiano para buscar em certos lugares o bem estar humano tão desejado.
Enquanto uns acreditam que a necessidade de viajar é algo criado pela classe dominante, outros crêem que o contato com a natureza, a ânsia por liberdade e independência têm também nas viagens as projeções dos anseios internos dos seres humanos. Neste aspecto, considerando-se anseios internos como algo não-inerente à sociedade e aos padrões ideológicos, seria a viagem algo necessário aos indivíduos independente dos estímulos criados pela mídia, por exemplo.
Entretanto é inegável que na contemporaneidade da globalização, as inovações tecnológicas e as comunicações sociais atreladas ao incremento do nível de vida nas sociedades chamadas desenvolvidas, que acrescidas da alteração dos hábitos de consumo, agem diretamente sobre a atividade turística.
Além dos inúmeros fatores de ordem individual e coletiva (anseios internos, fatores “impostos” pela mídia), numa outra abordagem vale observar que as perspectivas, de modo geral, relacionadas ao turismo são cada vez mais promissoras.
Dentre muitos estudiosos, líderes políticos e empresários, o turismo vem sendo tratado principalmente sob a ótica dos benefícios econômicos, o que justifica a valorização da atividade. Neste caso, cita-se a geração de empregos e atração de impostos. Molina & Rodríguez, ao falarem da evolução do turismo na América Latina, apontam que este foi “concebido pela superestrutura - dependente- latino-americana como fator de desenvolvimento, em virtude de seus possíveis efeitos econômicos” (MOLINA & RODRÍGUEZ, 1997:41).
Entretanto, em diversos lugares, a exploração turística causa impactos os quais tornam pertinentes os estudos que analisam suas abrangências.
Enquanto a mídia cumpre seu papel exaltando os potenciais para exploração do turismo em diversos lugares, existem organizações que lidam diretamente com a atividade que crescem sob a “proteção” do marketing societal. Este incube às mesmas que se comprometam em preservar ou ampliar o bem estar da sociedade. Entretanto considerando-se que a responsabilidade com a sociedade e mesmo com a conservação do ambiente está relacionada com as estipulações que a sociedade coloca às instituições, o marketing societal pode tornar-se vazio quando a sociedade não está organizada, ou mesmo quando esta não se encontra esclarecida sobre as repercussões negativas que a intensiva exploração turística pode vir a causar em tais lugares.
Como vários autores vêm constatando, a atividade age de maneira a modificar substancialmente tanto o espaço, a organização estrutural de cidades turísticas, quanto os costumes das comunidades receptoras.
Apesar de afirmativas em contrário, uma aplicação prática e ampla de uma política de turismo social e ecologicamente responsável, em todos os âmbitos (empresarial, local, regional, nacional, internacional, tanto de consumidores como de produtores), não aconteceu ainda. Pior que isso: a sobrecarga da natureza e da cultura causada pelo turismo continua a aumentar (KRIPPENDORF, 2001).
As temáticas relacionadas ao meio físico, ao ambiente onde o turismo se inscreve, vêm ganhando destaque. “Na tentativa de minimizar os prejuízos, resultantes da apropriação capitalista do espaço pela atividade turística, esses estudos já vêm se desenvolvendo há algum tempo, sobrepondo-se aos trabalhos anteriores que apresentavam um enfoque essencialmente economicista” (MAGALHÃES, 2002:66).
Se por um lado, a globalização, as inovações tecnológicas e as comunicações sociais são motivadoras e/ou facilitadoras à atividade turística, por outro, causam forte repercussão nos lugares onde a atividade se realiza. Neste aspecto é importante notar as principais modificações e implicações que o fenômeno turístico traz consigo para tais lugares.
Assim sendo, diante dos inúmeros itens que agem em favor da atividade cabem algumas questões que dizem respeito ao lugar turístico. Se o turismo vem sendo concebido como algo necessário tanto para a sociedade (que necessita fugir das “neuroses urbanas”) quanto para as cidades (por ser atribuído ao setor a responsabilidade de propulsor do desenvolvimento econômico); vale enfatizar que muito além dos efeitos econômicos, a atividade abarca uma série de questões de abrangência social e ambiental.
Referências Bibliográficas
KRIPPENDORF, JOST. Sociologia do Turismo. Editora Aleph. Série Turismo, 3º edição. 2001.
MAGALHÃES, Cláudia Freitas. Diretrizes para o Turismo Sustentável em Municípios. São Paulo: Roca, 2002.
RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e Espaço. Rumo a um conhecimento transdisciplinar. São Paulo: Editora HUCITEC, 1977.
MOLINA E RODRÍGUEZ. Planejamento Integral do Turismo.Um enfoque para a América Latina. Bauru: SP, 1997.
Por: Lauren Fernandes de Siqueira
Aluno do curso de turismo da Universidade Federal de Juíz de Fora - MG
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