terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso



O Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, inspirado nos sistemas de trilhas de longo curso estadunidense (National Trails System) e europeu (European long-distance paths), tem como objetivo conectar as diferentes unidades de conservação do país. Uma iniciativa conjunta do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de grupos de voluntários e da sociedade civil organizada – como, por exemplo, o Movimento Trilha Transcarioca e a Associação Trilha Transmantiqueira -, o projeto está inserido no contexto do Programa Nacional de Conectividade de Paisagens (Conecta) instituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) a partir da Portaria nº 75 de 26 de março de 2018.


A princípio, os sistemas de trilhas surgiram com o intuito de proporcionar recreação e geração de renda através da integração dos usuários e visitantes de áreas protegidas e das comunidades locais. Eventualmente, os benefícios ecológicos e ambientais também se tornaram parte da proposição e finalidade de implementação do Sistema, uma vez que a fauna também se utiliza das trilhas. Desta maneira, a conectividade de paisagens por meio de trilhas de longo curso ganhou relevância como estratégia de conservação, haja vista que um dos principais fatores que ameaçam a biodiversidade é a fragmentação dos habitats. A migração da fauna entre áreas protegidas garante a manutenção do fluxo gênico e a variabilidade genética.

Brasil - Sistema de trilhas de longo curso
Quatro grandes corredores vão conectar paisagens naturais no país. Meta é chegar a 18 mil km e movimentar 2 milhões de pessoas por ano.

Os ministros do Turismo, Vinicius Lummertz, e do Meio Ambiente, Edson Duarte, juntamente com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Paulo Henrique Carneiro, assinaram nesta sexta-feira (19) em São Paulo a portaria que institui a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade. O ato marcou a abertura da 19ª Adventure Sports Fair, considerado o principal evento latino-americano dedicado ao mercado de turismo de aventura e esportes do ar livre.

A “RedeTrilhas” será composta por trilhas que ligam diferentes biomas de Norte a Sul do País, conectando paisagens e ecossistemas brasileiros para promover a organização, estruturação e ampla visibilidade à oferta turística de natureza no Brasil.

Elas serão identificadas com um símbolo de uma “pegada” amarela no chão e poderão ser percorridas a pé, de bicicleta ou utilizando outros modos de viagem não motorizados. Pelo menos 1,9 mil quilômetros já estão prontos. A meta é estruturar 18 mil quilômetros em 20 anos, com estimativa de movimentar 2 milhões de pessoas por ano.

A medida tem o objetivo de reconhecer e proteger rotas pedestres de interesse natural, histórico e cultural, além de sensibilizar a sociedade para a importância do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).

“O ecoturismo representa uma das maiores oportunidades que temos de nos posicionar no cenário internacional para atrair turistas e divisas para o Brasil. Diversos países, como os Estados Unidos, servem de exemplo sobre como usar de forma sustentável os atrativos naturais para movimentar a economia”, comentou o ministro do Turismo, Vinicius Lummertz. De acordo com o estudo de competitividade do Turismo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é a nação número um do mundo em atrativos naturais.

Durante o evento, o ministro defendeu que os parques são pontes para o Brasil projetar mundialmente seu protagonismo em turismo. “Sol e mar são muito importantes, mas o nosso diferencial planetário está nos parques, na natureza. Movimentos como este que lançamos hoje nos estimulam a conservar mais, para que possamos evoluir como país”, pontuou. Ele também afirmou que a grandiosidade natural do Brasil “exige que pensemos alto, senão não conseguiremos entregar um projeto de país compatível com nosso potencial”, disse.

CIRCUITOS - Os circuitos são o Litorâneo, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS); o Caminhos Coloniais, do Rio de Janeiro até Goiás Velho (GO); o Caminhos dos Goyases, entre Goiás Velho e a Chapada dos Veadeiros (GO); e o Caminhos do Peabiru, ligando o Parque Nacional do Iguaçu (PR) ao litoral paranaense.

Entre as trilhas já sinalizadas, estão o Caminho da Serra do Mar (RJ), a Transcarioca (RJ), a Transespinhaço (MG), a Rota Darwin (RJ-PE) e o Caminho das Araucárias (RS/SC), que integram o corredor Litorâneo; o Caminho de Cora Coralina (GO) e o Caminho da Floresta Nacional de Brasília, que fazem parte do Caminhos dos Goyases; a Trilha Chico Mendes (AC); e a Transmantiqueira (RJ, MG e SP), que estão sendo percorridas pelos primeiros grupos de aventureiros e exploradores.

EXPERIÊNCIA - O sistema brasileiro de trilhas de longo curso foi inspirado nas experiências internacionais, em especial no sistema europeu. É formado por grandes trilhas nacionais compostas por trilhas regionais menores, uma acabando onde começa a outra. Assim, cada uma pode ser percorrida em espaços de tempo variados, encaixando-se em diferentes períodos de férias – uma semana, duas semanas ou até um mês. “Isso permite ao ecoturista voltar para casa com a sensação de ter atingido o objetivo de completar a totalidade de uma trilha”, ressalta Menezes.

O coordenador cita, como exemplos, a Trilha Transmantiqueira (MG, RJ e SP) e o Caminho das Araucárias, entre Canela (RS) e o Parque Nacional de São Joaquim (SC), que podem ser feitas em três semanas. Outros exemplos são a Trilha Transcarioca, no Rio de Janeiro, que leva 10 dias de caminhada, e trechos menores, como Caminhos da Serra do Mar ou as voltas da Juatinga e da Ilha Grande, todas no Rio de Janeiro, que levam sete dias de caminhada.

A Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso integra o Programa Nacional de Conectividade de Paisagens, do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O programa reúne um conjunto de ações que buscam promover a interligação de ecossistemas e a gestão das paisagens no território brasileiro, estimulando a conservação da natureza e o desenvolvimento social, econômica e cultural do país.

Presidente Figueiredo (AM). Crédito: Mario Oliveira/banco de imagens MTur Destinos 

ECOTURISMO - Para mais de 622 mil estrangeiros que visitaram o Brasil no ano passado, o turismo de natureza, ecoturismo ou aventura foi o principal motivo de viagem. Além disso, em três dos quatro países para os quais já foi adotado o visto eletrônico, o segmento foi o principal motivo da viagem para destinos brasileiros no ano passado: Japão (72,8%), Austrália (60,6%) e Canadá (42,8%).

A performance do país nesse mercado é incompatível com a diversidade e qualidade da oferta, segundo Lummertz. “Enquanto os EUA recebem 307 milhões de visitantes e faturam US$ 17 bilhões com os parques ao ano, o Brasil recebe pouco mais de 10 milhões de visitantes e fatura R$ 2 bilhões sendo o número um do mundo. Esses dados não fazem sentido, precisamos agir e virar essa página”, disse o ministro do Turismo.

Juntos, os setores de hospedagem e alimentação representam mais de 50% dos R$ 2 bilhões de faturamento anual gerado para os municípios de acesso aos parques no Brasil. O dado revela a importância econômica do turismo para destinos que são portões de entrada dessas áreas protegidas.

ADVENTURE SPORTS FAIR - O estande do MTur na feira, com cerca de 180 m2, contará com exposição de experiências e atividades em cenários naturais de 13 parques nacionais brasileiros. Também haverá atendimento ao público do evento, que é voltado especialmente ao consumidor final.

Serão três dias de programação no centro de convenções São Paulo Expo, que deve receber cerca de 30 mil visitantes até domingo (21). O espaço vai reunir destinos, marcas, produtos e serviços do segmento, setor público, profissionais, academia, entidades ambientais, trade turístico e público final interessados em atividades como o 14º Fórum Interamericano de Turismo Sustentável (FITS) e a compra de produtos e serviços de ecoturismo e aventura em parques nacionais. No ano passado, 26,7 mil visitantes geraram R$ 15 milhões em negócios durante a 18ª edição.

De acordo com a organização do evento, em 2017 cerca de 47% dos frequentadores da feira declararam-se praticantes regulares do turismo de aventura e 80% afirmaram que viajam pelo menos duas vezes ao ano com esse propósito.

No evento, turistas e demais interessados em atividades do segmento poderão conhecer roteiros de viagem nacionais e internacionais de ecoturismo; testar lançamentos de equipamentos, vestuário, calçados e acessórios para os esportes de aventura, além de vivenciar modalidades como o snowboard, esqui, mergulho, arvorismo, escalada, caiaque, stand-up paddle e fazer test drives com veículos off road. A Adventure Sports Fair funciona das 12h às 20h nesta sexta e das 10h às 20h no sábado e domingo.

Implementação
A implementação começa pelas unidades de conservação, de todas esferas de governo (federal, estadual e municipal). A trilha é construída já com um planejamento de ligação dos pontos inicial e final com outras UCs da região. O ponto de entrada aponta para a unidade anterior e o ponto de saída aponta para a próxima unidade.

O percurso que liga duas unidades é a chamada “linha tracejada”. As experiências anteriores tanto em outros países quanto no Brasil mostram que existe um movimento natural de pressão dos caminhantes para que as “linhas tracejadas” sejam também implementadas e sinalizadas. Para os proprietários de terras por onde passa essa linha surge uma oportunidade de transformar a área em reserva legal ou área de preservação permanente e ainda gerar renda oferecendo serviços como camping e alimentação para os visitantes.

Sabe-se que poucos são os caminhantes que completam um percurso tão longo de trilhas como o Corredor Litorâneo, com mais de 8 mil quilômetros. Nesse sentido as trilhas são planejadas para serem percorridas em etapas - caminhos menores que fazem parte de um grande percurso.

Exemplos são a Trilha Transcarioca, que passa pelo Parque Nacional da Tijuca (RJ) e os Caminhos da Serra do Mar, que passam pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ); ambas fazem parte do Corredor Litorâneo, estão sinalizadas e já são percorridas pelos caminhantes.

Além de ter a conveniência para o visitante de poder percorrer um caminho inteiro durante um período de férias, essa estratégia traz também um sentimento de pertencimento regional e incentiva o protagonismo dos envolvidos locais para cuidar da sua trilha.

Sinalização padronizada


Padrão de sinalização. Fotos Marcello Cavalcanti e Acervo ICMBio

A pegada amarela sob uma base preta, ou o contrário para indicar o sentido oposto, foi escolhida como a sinalização padrão. A Coordenação Geral de Uso Público do ICMBio realizou várias capacitações em diferentes partes do Brasil compartilhando as técnicas. A sinalização padronizada reforça a característica de rede nacional ao mesmo tempo que permite a personalização de cada caminho regional com suas próprias características. A identidade unificada permite aos visitantes perceber que a trilha faz parte de um sistema maior que contribui para a conservação da natureza no país. Além de sinalizar o percurso para guiar os caminhantes a sinalização pode ser empregada em diversos produtos. Souvenirs para os caminhantes e fonte de renda para a população local.

Aspectos culturais e históricos
Muitas das trilhas de longo curso possuem, além da beleza natural, atrativos culturais e históricos. É o caso da Estrada Real que percorre os caminhos utilizados para escoar ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro no período colonial. O Caminho das Araucárias, que iniciou a sinalização recentemente, percorre a rota dos tropeiros que faziam a comercialização de animais no sul do país nos primórdios do século XVIII.

O objetivo é chamar a atenção do público para a história, resgatar o modo de vida, o modo de viajar e, principalmente, as formas de relacionamento das pessoas da época com o meio ambiente. Essa abordagem inspira os visitantes sobre a responsabilidade de proteger nosso patrimônio natural.

Participação Social
A participação da sociedade nesse processo é muito importante. Desde a pressão para implementação de “linhas tracejadas” nos percursos, passando pelos mutirões de voluntários para sinalizar e estruturar as trilhas e finalmente na construção de grupos que trabalham na manutenção dos caminhos.

“Poder ajudar a cuidar de uma riqueza tão esplêndida, que é a natureza, e saber que isso é de todos, se torna algo extremamente gratificante. É a oportunidade que nós, sociedade, temos para colaborar. É uma sensação de dever cumprido, como um chamado!”, relata Gabriela Naibo, voluntária do Parque Nacional das Araucárias (SC).

"É importante a comunidade entender que as trilhas são uma conquista e um direito seu. Funcionam como equipamento de recreação, oportunidade de geração de renda e estratégia para conservação das espécies, essa consciência transforma os cidadãos em protagonistas e guardiões das trilhas", finaliza Pedro Menezes.

Leia também: O Brasil no caminho das trilhas de longo curso

Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso

Corredor Litorâneo

Mais de 8.000 km passando por mais de 100 unidades de conservação federais, estaduais, municipais e privadas ao longo da costa brasileira.

Percursos:
Caminho das Araucárias (Florestas Nacionais de Canela e de São Francisco de Paula, Parques Nacionais de Aparados da Serra, Serra Geral e São Joaquim)
Transmantiqueira (Parque Nacional do Itatiaia, APA da Serra da Mantiqueira, Parques Estaduais da Pedra Selada, da Serra do Papagaio e de Campos do Jordão, Monumento Natural Estadual da Pedra do Bau e Monumento Natural Municipal da Pedra do Picu)
Trilha Transcarioca (Parque Nacional da Tijuca, Parque Natural Municipal de Grumari, Parque Estadual da Pedra Branca)
Caminhos da Serra do Mar (Parque Nacional da Serra dos Órgãos)
Rota do Descobrimento (Parques Nacionais do Pau Brasil e do Monte Pascoal)
Rota das Emoções (Parques Nacionais de Jericoacoara e Lençóis Maranhenses)

Trilha Missão Cruls

O traçado de 600 km seguirá o caminho percorrido por Luiz Cruls em 1892, quando liderou uma expedição para estudar o Planalto Central e delimitar a área onde seria construída Brasília. O percurso de 136 km já sinalizado no Distrito Federal também pode ser percorrido de bicicleta.

Percursos:
Caminho de Cora Coralina (Parques Estaduais da Serra dos Pirineus, Serra Dourada e Serra de Jaraguá)
Trilha União + Circuito Flona + Circuito Serrinha do Paranoá (Parque Nacional de Brasília, Floresta Nacional de Brasília e Área de Proteção Ambiental do Planalto Central)
Travessia das Sete Quedas (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros)

Caminhos do Peabiru

Cerca de 1.000 km seguindo o caminho histórico dos índios Guarani que ligava o Atlântico aos Andes. Áreas núcleo: Parque Nacional do Iguaçu, Estação Ecológica da Mata Preta, Parques Nacionais das Araucárias, Guaricana, Saint-Hilaire/Lange, Florestas Nacionais de Três Barras e Assungui, entre outros

Estrada Real

Mais de 1.700 km de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo seguindo o caminho histórico oficializado pela Coroa Portuguesa no século XVII. Áreas núcleo: Parques Nacionais das Sempre Vivas, Serra do Cipó, Itatiaia e Serra da Bocaina. Saiba mais aqui.

Sinalização do Sistema Brasileiro de Longo Curso
Sua utilização, que está  aberta gratuitamente para aplicação por qualquer pessoa ou órgão, independente da esfera de governo, está disciplinada e bem explicada pelo Manual de Sinalização de Trilhas do ICMBio (faça aqui o download). 

Comunicação ICMBio
(61) 2028-9280

Por Vanessa Sampaio,
com informações do Ministério do Meio Ambiente
Fonte: turismo.gov.br

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