Kogetsi, akatxi, o'iran, anawën, harika, waikenan, kahukade, ai'iwe e fenaama. Nove entre mais de 150 maneiras de dizer amanhã nas línguas indígenas existentes no Brasil. E essa lista aumentaria em centenas, talvez milhares de palavras, se fosse feita séculos atrás, quando até 1.500 línguas podem ter sido faladas no território.
- Isso são estimativas, diz a antropóloga e linguista Bruna Franchetto, pois a diversidade linguística indígena ainda precisa ser conhecida por completo.
Franchetto, autora de uma palestra no Museu do Amanhã, sobre a redução dessas línguas, explica por que o sumiço de cada uma delas é uma grande perda para todos nós:
- Cada língua indígena que enfraquece e desaparece leva consigo muito conhecimento sobre o mundo, o meio ambiente, os recursos naturais, informações sobre o manejo sustentável destes recursos e também sobre a história, modos de pensar, de conceber a vida, a relação entre os seres vivos, os mortos e os espíritos.
Nova vida para língua dos Pataxó
Há cerca de 900 mil indígenas no Brasil, segundo o último censo. O número representa menos de 1% da população. A maioria, em torno de 574 mil, continua em áreas rurais, mas a vida urbana já é uma realidade para quase 325 mil indígenas. A mudança para a cidade pode ser um isolamento semelhante ao da mudança para uma tribo por quem sempre viveu na cidade, já que esse afastamento diminui o contato com sua comunidade, com sua língua.
Mas Franchetto afirma que, se as línguas indígenas podem enfraquecer, elas também podem ressurgir, fortalecendo a identidade de seus povos. E cita como exemplo o caso dos Pataxó, que vivem em diversas aldeias entre sul da Bahia e o norte de Minas Gerais:
- Após séculos de contato com gente de fora das aldeias, hoje os Pataxó estão resgatando a própria língua, o Patxohã, reconstruindo-a a partir de várias fontes e fragmentos. Agora ensinam sua língua ao seu povo nas escolas das aldeias.
Este foi um movimento que partiu dos Pataxó e, segundo a pesquisadora, outros povos também querem revitalizar suas línguas antes que as percam por completo.
Mapa mostra línguas indígenas em perigo no Brasil e no mundo
O risco de muitas línguas indígenas serem perdidas é alto. O "Atlas das línguas em perigo no mundo", produzido pela Unesco, mostra que há 190 línguas ameaçadas no Brasil, todas elas de povos indígenas. Pelo atlas, é possível ver que há muita diferença entre os números de falantes dessas línguas. Por exemplo, o ticuna é falado por cerca de 35 mil indígenas no Amazonas, mesmo estado onde somente duas pessoas falam poianauá, sendo que outras 33 línguas são faladas por menos de dez pessoas no país.
E o Brasil não é o país com mais línguas em perigo. Em primeiro está a Índia, onde 197 línguas estão ameaçadas; depois, os Estados Unidos, com 191 línguas; em seguida o Brasil, após a China, com 144 línguas em risco, enquanto México e Indonésia têm 143 línguas que podem desaparecer. Na verdade, a redução da diversidade linguística é um fenômeno global. Ainda segundo o atlas da Unesco, das cerca das 6 mil línguas existentes no planeta, mais de 2.500 estão ameaçadas.
Mas há novas línguas surgindo? Ou será que falaremos apenas um idioma ou um pequeno conjunto deles? Isso facilitará o diálogo entre os povos? Valerá o sacrifício da diversidade? São perguntas que todos nós devemos fazer nos próximos anos.
País multilíngue
Da família linguística tupi-guarani, o Apiaká é apenas uma de dezenas de línguas brasileiras em perigo de extinção.
Segundo o Atlas das Línguas em Perigo da Unesco, são 190 idiomas em risco no Brasil.
O mapa reúne línguas em perigo no mundo todo – e o Brasil é o segundo país com mais idiomas que podem entrar em extinção, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Adauto Soares, coordenador do setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil, explica que o mapa foi feito com a colaboração de pesquisadores especialistas em cada região e entidades governamentais e não governamentais.
Atlas UNESCO dos idiomas do mundo em perigo
---> Link
No Brasil, as principais entidades que colaboraram foram o Iphan, a Funai, a Unaids e o Museu do Índio.
Por: Por Davi Bonela, pesquisador do Observatório do Amanhã
Fonte: museudoamanha.org.br
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