Durante o período colonial do país, entre 1530 e 1815, os quilombos foram áreas de refúgio para escravos africanos e afrodescendentes que se rebelavam contra os escravistas brancos. Essas comunidades, chamadas de quilombolas, existem em todas as regiões do Brasil e foram importantes pontos de preservação dos costumes africanos.
As comunidades quilombolas são comunidades e grupos sociais cujos processos identitários de construção sociocultural os distinguem do restante da sociedade. Tais processos tornam-se dinâmicos, balizados em mecanismos sucessivos de construção e reconstrução identitárias, nas quais os atores sociais se apropriam, selecionam e reelaboram determinados atributos culturais, de acordo com os diferentes contextos ou momentos históricos.
A riqueza cultural de uma comunidade ao ser preservada como forma de manutenção do grupo é utilizada como fomento ou elemento potencializador para a atividade turística, principalmente neste momento em que se observa o crescente interesse pela pluralidade étnica e pela diversidade cultural. Dessa forma, a atividade projeta o patrimônio cultural como instrumento mediador de aprendizagem e educação.
Os turistas tidos como culturais possuem como principal motivação o desejo de entrar em contato com diferentes culturas, visitando os elementos representativos do patrimônio de uma determinada comunidade: conjuntos arquitetônicos, sítios arqueológicos, danças típicas, religiosidade, gastronomia, o artesanato, a musicalidade, performances artísticas. Assim, o patrimônio cultural apresenta-se como atrativo significativo para os turistas, especialmente para aqueles que buscam na apreciação do outro, um diferencial em relação às suas vivências habituais.
De acordo com a Organização Mundial de Turismo – OMT (2003, p. 168), o turismo étnico “é voltado para as tradições e estilo de vida de um grupo e utilizado, principalmente, para destacar o turismo nas comunidades ou enclaves específicos, em processo de desenvolvimento”. Considera-se que a vivência dos turistas com os elementos do patrimônio cultural pode contribuir para o fortalecimento das identidades e para a revalorização da memória e da cultura locais.
O turismo étnico vem se desenvolvendo nas últimas décadas e envolve a valorização cultural e possibilidade de promover diversas experiências e inter-relações entre visitantes e comunidades quilombolas. Além disso, pode permitir ainda a vivência de experiências autênticas e o contato direto com os modos de vida dos grupos étnicos, promovendo o reconhecimento da cultura local.
Turismo
O turismo étnico vem sendo debatido nos últimos anos e ganhando destaque nas discussões que envolvem aproveitamento da memória social e da cultura negra para o desenvolvimento da modalidade. Algumas regiões do Brasil já desenvolvem este segmento, como é o caso da Bahia, que tem como principal característica, a presença marcante da cultura negra que atrai turistas de várias regiões do Brasil e de outros países que desejam conhecer melhor o processo de colonização e a influência da cultura africana na formação brasileira. Para Beni (2002, p. 145) no turismo étnico os grupos se deslocam na busca: [...] de suas origens étnicas locais e regionais, e também no legado históricocultural de sua ascendência comum. Incluem-se aí ainda aqueles que se deslocam com objetivos eminentemente antropológicos para conhecer “in loco” as características étnico- culturais daqueles povos que constituem o interesse de sua observação.
Este cenário vivenciado pelas comunidades compromete de forma significativa o modo de vida tradicional e a manutenção da cultura já que estes estão ligados à vivência no território herdado pelos familiares. Sobre a relação da memória, espaço e tempo, Halbwachs (1990, p. 87), diz que “toda memória coletiva tem por suporte um grupo limitado no espaço e no tempo. [...] o grupo, no momento em que considera seu passado, sente acertadamente que permaneceu o mesmo e toma consciência de sua identidade através do tempo”.
O patrimônio cultural como testemunho das diversas vivências dos grupos sociais apresenta-se sob vários matizes, considerando os aspectos tangíveis e espirituais que produzem sentido e significado ao legado cultural transmitido de geração a geração. Este legado envolve diversas manifestações culturais que representam as comunidades, como as técnicas de construções de suas casas, as festas, rituais, celebrações, a influência religiosa, benzeções e outras práticas tradicionais, a culinária, saberes e fazeres, etc. Enfim toda produção material e imaterial dos grupos sociais que compõe este sistema integrado e simbólico. O turismo cultural de acordo com Barretto (2007, p.87), pode ser considerado como aquele em que principal atrativo deixa de ser a natureza, sendo então “[...]um aspecto da cultura humana, que pode ser a história, o cotidiano, o artesanato, ou qualquer dos aspectos abrangidos pelo conceito de cultura”. Assim, esse segmento se diferencia por considerar relevante a narrativa do sujeito, enquanto demonstração de suas manifestações e saberes.
O Turismo Quilombola, oferece roteiros turísticos onde o turista poderá visitar os famosos Quilombos, locais de refúgio dos escravos africanos fugitivos e afrodescendentes no Brasil entre os séculos XVI e XIX. Os Quilombos existiam em todo o Brasil,e ainda hoje muitos se mantém como comunidade.
O mais famoso de todos foi o Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga, na então Capitania de Pernambuco, região hoje pertencente ao município de União dos Palmares, no estado brasileiro de Alagoas; onde seu líder, Zumbi chegou a liderar milhares de pessoas residentes do Quilombo. Atualmente onde era o Quilombo dos Palmares encontra-se o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, onde existe a comunidade quilombola Muquém, grandes mestres da cerâmica típica local; além desta comunidade a região mantém outras comunidades de igual importância para a história dos Quilombos.
Visitamos o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que reconstitui o cenário do maior, mais duradouro e organizado refúgio de negros escravizados das Américas.
Comunidades Quilombolas
Conheça as comunidades quilombolas abertas à visitação: história viva, cultura e belezas naturais são alguns dos muitos atrativos.
1 - Parque Memorial Quilombo dos Palmares – Alagoas
Parque Memorial Quilombo dos Palmares promove celebrações culturais e religiosas
Parque Memorial Quilombo dos Palmares homenageia a epopeia palmarina, a partir de uma releitura que incorpora os consensos das interpretações e as expressões culturais afro-brasileira e indígena. A riqueza do patrimônio imaterial afro-brasileiro tem sido preservada através da oralidade e das práticas religiosas, culturais e artesanais, encontradas nas Casas Religiosas de Matriz Africana e nas Comunidades Remanescentes de Quilombo. Estas são as fontes de criação do conteúdo cultural do Parque Memorial Quilombo dos Palmares
Um dos roteiros famosos da região dos Palmares, é o “Caminho da Liberdade” onde cultura, natureza, ecologia, animais e história estão presentes em cada recanto! Porém este não é o único local no Brasil, onde se pode conhecer mais sobre os Quilombos, o Vale do Ribeira, localizado no sul do estado de São Paulo, abriga ainda muitas comunidades indígenas e quilombolas, e onde o turismo Quilombola tem se tornado uma fonte atrativa de visitantes para a região.
Localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, o parque fica onde antigamente se localizava o Quilombo dos Palmares, o maior e mais importante durante o período colonial. Aberto em 2007, o memorial conta com reproduções de alguns edifícios utilizados pelos negros durante a resistência à escravidão e também pontos de áudio com textos em até quatro idiomas que contam um pouco sobre o cotidiano do local e da cultura negra. O memorial fica no 9 km da Serra da Barriga.
Quilombo dos Palmares: link
Reprodução/Site oficial
2 - Quilombo Pedro Cubas - São Paulo
A comunidade quilombola de Pedro Cubas ainda conta com 59 famílias de descendentes de escravos que têm na roça a principal atividade de subsistência. Fundado em 1856, o quilombo serviu como refúgio para negros escravos que trabalhavam na mineração do ouro. Pedro Cubas se localiza a aproximadamente 34 km da cidade de Eldorado, no interior paulista. Para chegar até lá, é preciso atravessar o Rio Ribeira de Iguape utilizando uma balsa no bairro Batatal, em Iporanga.
Reprodução: Link
Quilombo de Pedro Cubas
3 - Quilombo Sapatu - São Paulo
Formada por negros que escaparam do recrutamento forçado para combater na Guerra do Paraguai, em 1864, a comunidade de Sapatu é dividida em três locais: Indaiatuba, Sapatu e Cordas. Com cerca de 100 integrantes, o quilombo atrai turistas que buscam conhecer melhor a comunidade negra remanescente da região do Vale do Ribeira e também se refrescar na Queda do meu Deus (foto). Sapatu está localizada no município de Eldorado-SP, a aproximadamente 33 km do centro.
4 - Quilombo do Campinho - Rio de Janeiro
A comunidade quilombola Campinho da Independência foi criada por três negras ex-escravas da fazenda Independência, em Paraty. Há mais de um século, a comunidade segue um regime matriarcal e recebe visitas guiadas de turistas interessados na cultura, arte e gastronomia negra.
Para agendar uma visita à comunidade, entre em contato direto com o quilombo pelo telefone (24) 9988 8943.
Reprodução Link
Quilombo do Campinho
5 - Quilombo do Grotão- Rio de Janeiro
Entre os locais que as pessoas podem conhecer por meio da Conectando Territórios estão o Quilombo do Grotão, onde o visitante entra em contato com a história dos quilombos e vivencia a cultura local, como o samba, e a Região da Pequena África no Rio de Janeiro.
O Quilombo do Grotão, localizado em Niterói na Serra da Tiririca é uma comunidade que mantêm sua história e cultura viva.
6 - Quilombo de Ivaporunduva - São Paulo
Localizado no município de Eldorado, o quilombo de Ivaporunduva fica às margens do rio Ribeira de Iguape e é a comunidade quilombola mais antiga do Vale do Ribeira. Com uma população de 308 habitantes, Ivaporunduva surgiu no século 17 com a chegada de escravos abandonados pelos mineradores após o declínio da extração do ouro na região. Para visitá-los, entre em contato com o departamento de turismo da comunidade pelo telefone (13) 3879 5000.
Reprodução
Quilombo de Ivaporunduva
7 - Quilombo Kalunga - Goiás
Um lugar me meio a serras, rios, vales e cachoeiras da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, foi onde os escravos se refugiaram dos mineradores durante o período colonial e construíram o quilombo Kalunga - o maior do Brasil atualmente, com mais de duas mil famílias e quase 8 mil habitantes.
Quem visita o quilombo, localizado nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, pode esperar ser recebido com muito artesanato e comidas típicas da região, como a carne de sol. As ernomes e limpas cachoreiras também são outro atrativo natural da região. Para mais informações sobre como visitar o quilombo Kalunga, acesse o site da comunidade clicando aqui: Link
Patrícia Moraes/iG
Cachoeira Santa Bárbara, no Quilombo Kalunga
Importância do turismo QUILOMBOLA
A história brasileira foi contada pelo colonizador. Entrar em contato com a história e identidade de cada território é saber que não existe uma história única. A partir do momento em que as pessoas passam a ter contato com a história de luta e resistência dessas comunidades, elas fortalecem o movimento de reivindicação de direitos por meio da visibilidade.
O turismo étnico vem se afirmando como uma alternativa para o desenvolvimento econômico, cultural e social no Brasil. Porém, torna-se necessário que o mesmo envolva as comunidades no processo. O turismo pode trazer diversos benefícios, dentre eles, econômico, cultural e social. Além disso, pode permitir ainda a vivência de experiências autênticas e o contato direto com os modos de vida dos grupos étnicos. Como qualquer outro segmento, o turismo étnico deve respeitar as crenças e as tradições culturais locais, pois o consumo “desenfreado” da cultura pode, ao invés de promover a valorização da cultura, contribuir para sua banalização.
Usar o turismo como um método de resgate e valorização cultural é uma necessidade, pois o reconhecimento da importância não é atual, porém se evidencia uma maior preocupação e interesse em conhecer, e muitas vezes revitalizar dando maior ênfase aos aspectos que tornam distintas as sociedades com sua respectiva história, que foi construída e tem seu valor intrínseco. As particularidades dos territórios étnico-culturais devem ser consideradas e potencializadas no decorrer da formatação de produtos turísticos, promovendo maior articulação entre os agentes locais, visando ao alcance da sustentabilidade dos projetos turísticos.
Turismo cultural beneficia aos interessados, desde que sua intenção seja de uma prática coerente e responsável, afinal, dispor da história de um povo é ter contato direto com resultados futuros de valores praticados desde a ancestralidade. Compreende-se que o estudo e o conhecimento de culturas levam o sujeito a superar limites, desenvolvendo saberes que o permitem considerar o diferente como soma e não se deixar envolver por padrões que acercam e impedem possibilidades do crescimento interpessoal e intelectual.
O Turismo Quilombola, agregar valores e promover a integração entre as culturas, entretanto, isso acarreta o risco da aculturação quando não observado justamente a importância de se perceber o diferente como atrativo único. Ao mesmo tempo que possibilita ao visitante conhecer a história de luta dos quilombos pela manutenção de sua cultura e de seus territórios, o turismo em área quilombola permite às pessoas participar do cotidiano das comunidades, observando seus conhecimentos tradicionais, visitando as belezas naturais e contribuindo para preservar as riquezas da sociobiodiversidade da região”
O Turismo Quilombola, agregar valores e promover a integração entre as culturas, entretanto, isso acarreta o risco da aculturação quando não observado justamente a importância de se perceber o diferente como atrativo único. Ao mesmo tempo que possibilita ao visitante conhecer a história de luta dos quilombos pela manutenção de sua cultura e de seus territórios, o turismo em área quilombola permite às pessoas participar do cotidiano das comunidades, observando seus conhecimentos tradicionais, visitando as belezas naturais e contribuindo para preservar as riquezas da sociobiodiversidade da região”
Fontes:
BARRETTO, M. Cultura e Turismo: Discussões contemporâneas. Campinas, SP: Papirus,
2007.
Silva, E. L. (2016). Possibilidades do desenvolvimento do turismo étnico nas comunidades quilombolas de Diamantina/MG:
oportunidades e desafios.
Conheça 6 comunidades quilombolas: https://turismo.ig.com.br/
Filme: Quilombo (A historia do Quilombo dos Palmares)
Filme: Quilombo (A historia do Quilombo dos Palmares)
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